O Sindicato dos Engenheiros no Estado do Ceará (Senge-CE) recebeu com indignação e perplexidade a informação, divulgada nesta semana, que a empresa automobilística Ford, que tem operação na cidade de Horizonte (CE), por meio da marca Troller, deverá até o fim do ano encerrar sua produção no Brasil. Além de Horizonte, a empresa tem montadoras em Camaçari (BA) e Taubaté (SP).
No Brasil serão 6 mil empregos diretos eliminados e mais dezenas de milhares na cadeia produtiva, sem contar o impacto em toda a economia e receitas públicas desses locais. A Troller conta, atualmente, com cerca de 470 empregados diretos, com salários entre R$ 1.100 e R$ 12 mil, considerando todos os níveis, dentre eles engenheiros de produção, elétricos e mecânicos que ficarão sem emprego.
Um estudo da Associação Nacional das Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) mostra que um carro no Brasil paga entre 48,2% e 54,8% de taxa, levando todos os impostos como ICMS, ISS, PIS e Cofins (e o efeito cascata embutido nele). Mas o fato de os custos fixos no país vizinho, a Argentina, serem mais baixos, como os gastos com a mão de obra, também pode ter pesado na decisão.
Segundo a presidente do Senge-CE, Teodora Ximenes, o fechamento da montadora no Ceará trará uma série de prejuízos ao país e também para a categoria dos engenheiros. “Para além das graves consequências para trabalhadores, concessionários e fornecedores, a saída da Ford é péssima para o Brasil. As operações na América do Sul continuam e o mercado brasileiro receberá carros importados da Argentina e do Uruguai. Um vexame para o Brasil, que é o maior produtor de veículos da região”, enfatiza Teodora.
Para o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Maracanaú (Sindimetal), Nilton Pereira, representantes da Ford já teriam confirmado que a fábrica no Ceará deverá continuar operando até o fim de 2021. Mas, enquanto a unidade em Horizonte não fecha, os funcionários aguardam a finalização de negociações da Ford para a venda da fábrica. Nilton revelou que os diretores nacionais da montadora informaram ao sindicato que estão buscando compradores para a unidade fabril. “A situação geral não foi boa, e faltou uma negociação com os representantes do Brasil para não termos uma parada de vez como foi em algumas fábricas. Foi uma surpresa para todos nós”, salientou Pereira.
Com o movimento de retirada de um país, qualquer empresa leva muita bagagem. Emprego qualificado é uma delas. Economistas estimam que cada vaga cortada na indústria pode deixar outros cinco profissionais desempregados na cadeia produtiva. Um carro, com todos os sistemas, tecnologia e acessórios embarcados, é um espelho disso. É todo um cenário econômico institucional que faz com que o Brasil deixe de ser interessante, pelo menos a médio prazo, para o investimento estrangeiro.